História da Engenharia de Produção no Brasil

As origens dos conceitos e práticas da Engenharia de Produção remetem-se à Revolução Industrial na Inglaterra ao final do século XVIII e início do século XIX.[1] Entretanto, foi com o surgimento da administração científica, o scientific management, nos Estados Unidos da América do Norte, consolidado nas primeiras décadas do século XX, por intermédio de um grupo de engenheiros, tendo Frederic W. Taylor como expoente principal, que veio a se caracterizar o campo de conhecimento que deu início à Engenharia de Produção.[2]

O taylorismo buscava maximizar o desempenho produtivo das empresas pela sistematização, controle e mecanização do trabalho, baseado na análise científica de tempos e movimentos necessários à execução de tarefas que visavam um determinado objetivo.[3] Neste mesmo contexto histórico surge também o fordismo, cujo nome se deve ao seu criador Henri Ford, fundador da montadora de automóveis que leva o seu sobrenome e que introduz no ambiente industrial de sua época inovações como a linha de montagem e os princípios de padronização de componentes, permitindo a intercambialidade, fatores estes responsáveis por grandes aumentos de produtividade e a mudança do paradigma de consumo do automóvel, que passa a partir de então a ser um bem de consumo de massa.[4] Já na década de 1930 ocorre um processo de construção de grandes fábricas e uma expansão da gerência científica do trabalho, fatores que demandam e propiciam o aparecimento de um novo profissional, o engenheiro industrial. Surge a Industrial Engineering, o nome da Engenharia de Produção nos Estados Unidos da América do Norte.

Outros dois campos de conhecimento, a Engenharia Econômica – com métodos e técnicas de custeio, avaliação de investimentos e aplicações de matemática financeira – e a Pesquisa Operacional – com técnicas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial para alocação eficiente de recursos e materiais pelo complexo industrial militar[5] e, posteriormente, aplicadas com sucesso ao mundo dos negócios, como a programação linear –, foram incorporados à administração científica e deram condições para formação de profissionais habilitados para a solução de problemas e para o gerenciamento de sistemas produtivos, em um contexto que consolidou o desenvolvimento da Engenharia de Produção nos EUA a partir de meados do Século XX.[6]

No contexto da industrialização brasileira, a partir da década de 1950, foram instaladas empresas multinacionais, com destaque especial para as norte-americanas, que, ao possuírem em seus organogramas departamentos como os de métodos, tempos e movimentos, de planejamento e controle da produção, bem como de controle da qualidade, com posições ocupadas por engenheiros industriais, contribuíram para o início da difusão da Engenharia de Produção no Brasil. Há, portanto, no Brasil, como nos Estados Unidos da América do Norte e também na Inglaterra, uma relação direta entre a industrialização e a consolidação do campo de conhecimento da Engenharia de Produção.[7]

No Brasil a primeira instituição de ensino a oferecer o curso de graduação em Engenharia de Produção, para atender às necessidades e enfrentar os desafios do mundo empresarial contemporâneo foi a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1957. Uma década após, a FEI - Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo abre o seu curso.[8] Com relação à Pós-graduação em Engenharia de Produção, as instituições pioneiras foram a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), que iniciaram seus cursos em 1966 e 1967, respectivamente, no âmbito de um esforço para concretização da independência tecnológica brasileira.

Cursos adicionais de graduação em Engenharia de Produção foram criados essencialmente nas instituições públicas nas décadas de 1960 até meados da década de 1990 do século passado. A partir dessa época, houve uma expansão considerável da oferta de cursos, em especial nas organizações privadas. Em 1982 existiam 21 cursos de graduação e, em 1996, 39 cursos. Em consulta atual no site do Ministério da Educação há no Brasil mais de 1800 cursos de graduação relacionados à área de Engenharia de Produção.[9]

Os docentes, discentes, profissionais e demais pessoas vinculadas à Engenharia de Produção no Brasil têm a ABEPRO – Associação Brasileira de Engenharia de Produção como organização representativa de seus interesses. A ABEPRO10, associação constituída em 1987, apresenta em seu estatuto os seguintes princípios:

“São princípios da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, também designada pela sigla ABEPRO: I. A inserção da Engenharia de Produção na comunidade científica e produtiva no sentido de promover o desenvolvimento social autossustentável; II. A missão de assegurar à sociedade a busca permanente de uma prática correta e preparada dos profissionais com competência adquirida em Engenharia de Produção; III. A busca permanente de cumprir seu papel para a construção de uma sociedade justa, democrática e de direito, fundamentadas em valores éticos e morais; IV. O compromisso com a paz, cidadania e respeito intrínseco aos Direitos Humanos (ABEPRO, 1987).”

 

Esta entidade também tem como papel a estabelecer a interlocução com relação a atividades de fomento, de organização e avaliação de cursos, junto às instituições governamentais como a CAPES, CNPq, FINEP, órgãos de apoio à pesquisa estaduais, e o MEC e o INEP. A ABEPRO também mantém interlocução e interação com organizações como o CREA, CONFEA, SBPC, ABENGE e outras com respeito a pesquisa, ensino e extensão em Engenharia de Produção.

 

[1] O primeiro livro que aborda temas considerados da Engenharia de Produção foi “The Economy of Machinery and Manufactures”, escrito por Charles Babbage em 1832.

[2] Leme, R. A. S. A história da Engenharia de Produção no Brasil. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 3., São Paulo. Anais... São Paulo, 1983.

[3] Bartholo, R. S. “A superação do laissez faire científico-tecnológico. Convivendo com a modernidade”. In: Labirintos do silêncio. Cosmovisão e tecnologia na modernidade. Marco Zero, Rio de Janeiro, 1987, p. 118.

[4] Frigotto, G. Educação e a crise do capitalismo real. Cortez Editora, São Paulo, 2000, p.70.

[5] Nome dado pelo presidente americano Eisenhower aos homens e recursos que viviam da preparação da guerra e que se comprometiam com a corrida armamentista. O complexo industrial militar americano e o soviético cresceram e se consolidaram no período da Guerra Fria, que se estende do final da Segunda Guerra Mundial, até a derrocada da União Soviética, em 1989. Hobsbawn, E. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 233.

[6] Leme, R. A. S. A história da Engenharia de Produção no Brasil. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção (Enegep), 3, São Paulo, SP. Anais... São Paulo, 1983, p. 87-98.

[7] Leme, R. A. S. A história da Engenharia de Produção no Brasil. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 3., São Paulo. Anais... São Paulo, 1983, p. 87-98.

[8] Faé, C. S. & Ribeiro, J. L. D. Um retrato da Engenharia de Produção no Brasil. Revista Gestão Industrial. v. 01, n. 03 : p. 24-33, 2005.

[9] MEC, Ministério da Educação, Sistema e-MEC, Relatório de Consulta Textual, Resultado da consulta por nome do curso “Engenharia de Produção”, Consulta em 04/12/2018.

10 ABEPRO. Informação disponível em http://www.abepro.org.br/internasub.asp?m=508&ss=8&c=482.